O que é Esclerose múltipla?
A esclerose múltipla
é uma doença autoimune que afeta o cérebro, nervos ópticos e a medula
espinhal (sistema nervoso central). Isso acontece porque o sistema
imunológico do corpo confunde células saudáveis com "intrusas", e as
ataca provocando lesões. O sistema imune do paciente corrói a bainha
protetora que cobre os nervos, conhecida como mielina.
Os danos à mielina causam interferência na
comunicação entre o cérebro, medula espinhal e outras áreas do sistema
nervosa central. Esta condição pode resultar na deterioração dos
próprios nervos, em um processo potencialmente irreversível. Ao longo do
tempo, a degeneração da mielina provocada pela doença vai causando
lesões no cérebro, que podem levar à atrofia ou perda de massa cerebral.
Em geral, pacientes com esclerose múltipla apresentam perda de volume
cerebral até cinco vezes mais rápida do que o normal.
Os sintomas variam amplamente, dependendo da
quantidade de danos e os nervos que são afetados. A esclerose múltipla
(EM) se caracteriza por ser uma doença potencialmente debilitante.
Pessoas com casos graves de esclerose múltipla podem perder a capacidade
de andar ou falar claramente. Nos estágios iniciais da doença, a
esclerose múltipla pode ser de difícil diagnóstico, uma vez que os
sintomas aparecem com intervalos e o paciente pode ficar meses ou anos
sem qualquer sinal da doença.
A esclerose múltipla atinge cerca de 2,5 milhões de
pessoas no mundo. A doença não tem cura, mas os tratamentos podem
ajudar a controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença.
Causas
As causas exatas da esclerose múltipla não são
conhecidas, mas há dados interessantes que sugerem que a genética, o
ambiente em que a pessoa vive e até mesmo um vírus podem desempenhar um
papel no desenvolvimento da doença. Embora a causa ainda seja
desconhecida, a esclerose múltipla tem sido foco de muitos estudos no
mundo todo, o que tem possibilitado uma constante e significativa
evolução na qualidade de vida dos pacientes.
Genética e ambiente
Acredita-se que a esclerose múltipla pode em parte
ser determinada geneticamente. Parentes de de pessoas com esclerose
múltipla têm maior risco de desenvolver a doença. Irmãos de um portador
têm um risco 2% a 5% maior de ter esclerose múltipla.
No entanto, experiências com gêmeos idênticos
indicam que a hereditariedade pode não ser o único fator envolvido. Se a
esclerose múltipla fosse determinada exclusivamente pela genética,
gêmeos idênticos teriam riscos idênticos. No entanto, um gêmeo idêntico
tem apenas uma chance 30% maior de desenvolver esclerose múltipla.
Alguns cientistas teorizam que a esclerose múltipla
se desenvolve em pessoas que nascem com uma predisposição genética que,
ao ser exposta a algum agente ambiental, desencadeia uma resposta
autoimune exagerada, dando origem à esclerose múltipla. A falta de
exposição ao sol nos primeiros meses ou anos de vida também é
considerado por especialistas como um fator ambiental que predispõe o
aparecimento de esclerose múltipla.
Vírus e esclerose múltipla
Alguns estudos sugerem que alguns vírus, tais como o de Epstein-Barr (mononucleose), varicela-zoster e aqueles presentes na vacina da hepatite podem ter relação com a esclerose múltipla. Até o momento, no entanto, essa hipótese não foi definitivamente confirmada.
Outros fatores
Há cada vez mais evidências sugerindo que
hormônios, incluindo os sexuais, podem afetar e serem afetados pelo
sistema imunológico. Por exemplo, tanto o estrógeno quanto a
progesterona, dois importantes hormônios sexuais femininos, podem
suprimir alguma atividade imunológica. A testosterona, o principal
hormônio masculino, também pode atuar como um supressor de resposta
imune.
Durante a gravidez,
os níveis de estrogênio e progesterona são muito elevados, o que pode
ajudar a explicar por que as mulheres grávidas com esclerose múltipla
geralmente têm menos atividade da doença. Os níveis mais elevados de
testosterona em homens podem parcialmente explicar o fato de que as
mulheres têm mais chances de desenvolver a doença do que os homens, uma
vez que a testosterona também pode inibir o sistema imunológico.
Contudo, os fatores hormonais isoladamente não são suficientes para
explicar a maior prevalência da doença em mulheres.
Fatores de risco
Vários fatores podem aumentar o risco de esclerose múltipla, incluindo:
- Idade: a esclerose múltipla pode ocorrer em qualquer idade, mas mais comumente afeta as pessoas entre 20 a 40 anos. Nessa faixa etária são feitos 70% dos diagnósticos
- Gênero: mulheres são mais propensas que os homens a desenvolver a esclerose múltipla. A proporção real é de três mulheres para cada homem
- Histórico familiar: se um de seus pais ou irmãos tem esclerose múltipla, você tem uma chance de 1 a 3% de desenvolver a doença - em comparação com o risco na população em geral
- Etnia: os caucasianos, em especial aqueles cujas famílias se originam do norte da Europa, estão em maior risco de desenvolver esclerose múltipla. As pessoas de ascendência asiática, africana ou americana tem menor risco
- Regiões geográficas: a esclerose múltipla é muito mais comum em áreas como a Europa, sul do Canadá, norte dos Estados Unidos, Nova Zelândia e sudeste da Austrália. Não se sabe ainda o porquê
- Outras doenças autoimunes: você pode ser um pouco mais
propenso a desenvolver esclerose múltipla se tiver outra doença que
afeta o sistema imune como distúrbios da tireoide, diabetes tipo 1 ou
doença inflamatória intestinal.
Sintomas de Esclerose múltipla
Pessoas com esclerose múltipla tendem a apresentar os primeiros sintomas na faixa dos 20 a 40 anos. Alguns podem ir e vir, enquanto outros permanecem.Não há duas pessoas que apresentem rigorosamente os mesmos sintomas de esclerose múltipla. Isso porque as manifestações irão depender dos nervos que são afetados. No entanto, os primeiros sintomas de esclerose múltipla no geral são: - Visão turva ou dupla
- Fadiga
- Formigamentos
- Perda de força
- Falta de equilíbrio
- Espasmos musculares
- Dores crônicas
- Depressão
- Dificuldade cognitivas
- Problemas sexuais
- Incontinência urinária.
Você pode ter um único sintoma e, em seguida,
passar meses ou anos sem qualquer outro. O problema também pode
acontecer apenas uma vez, ir embora e nunca mais voltar. Para algumas
pessoas, os sintomas tornam-se piores dentro de semanas ou meses.
Estes são os sintomas mais comuns da esclerose múltipla:
Sintomas sensitivo-motores
- Sensação de "alfinetes e agulhas" na pele
- Dormência
- Coceira
- Queimação
- Perda de equilíbrio
- Espasmos musculares
- Problemas para movimentar braços e pernas
- Dificuldade para andar
- Problemas de coordenação e para fazer pequenos movimentos
- Tremor em um ou mais membros
- Fraqueza em um ou mais membros.
Sintomas na bexiga e intestino
- Vontade de urinar várias vezes ao dia
- Urgência para urinar, principalmente à noite
- Dificuldade em esvaziar a bexiga completamente
- Constipação intestinal.
Sintomas sensoriais e psíquicos
- Tonturas ou vertigens
- Atenção e capacidade de julgamento diminuídas
- Perda de memória
- Dificuldade para raciocinar e resolver problemas
- Depressão ou sentimentos de tristeza
- Perda de audição.
Sintomas sexuais
- Secura vaginal
- Problemas de ereção
- Menor sensibilidade ao toque
- Apetite sexual mais baixo
- Problemas para atingir o orgasmo.
Problemas de fala
- Longa pausa entre as palavras
- Fala arrastada ou difícil de entender
- Fala anasalada
- Problemas de deglutição em estágios mais avançados.
Sintomas nos olhos
- Visão dupla
- Incômodo nos olhos
- Movimentos rápidos e incontroláveis dos olhos
- Perda de visão (geralmente afeta um olho de cada vez).
Fadiga
Cerca de oito em cada 10 pessoas com esclerose
múltipla se sentem sempre muito cansadas. Essa sensação acontece
geralmente durante à tarde e faz com que os músculos fiquem mais fracos,
o pensamento mais lento e deixa a pessoa sonolenta.
Essa fadiga geralmente não está associada com a
quantidade de trabalho que você faz. Algumas pessoas com esclerose
múltipla se sentem cansadas, mesmo depois de uma boa noite de sono.
Forma de evolução
A esclerose múltipla é classificada em:
- Remitente recorrente: é a forma mais comum, na qual os sintomas ocorrem na forma de surtos. Nos surtos há um sintoma neurológico que dura alguns dias ou semanas, podendo haver recuperação total ou parcial, seguindo-se um período se remissão
- Forma progressiva: na qual os sintomas neurológicos evoluem com piora gradual, sem intervalos ou remissões. Geralmente esta fase advém após anos de doença remitente recorrente, sendo por isso chamada de forma secundariamente progressiva. Quando a fase progressiva apresenta-se desde o início, o que é ainda mais raro, é chamada de forma progressiva primária.
Como os sintomas da esclerose múltipla varia muito,
é melhor não se comparar com outras pessoas que têm a doença. Sua
experiência é provavelmente será diferente. A maioria das pessoas
aprende a controlar seus sintomas e pode levar uma vida plena e ativa.
Na consulta médica
Em um primeiro momento, é provável que você visite
um clínico geral ou oftalmologista para investigar seus sintomas. A
partir daí, você pode ser encaminhado para um neurologista. Aqui estão
algumas informações para ajudar você a se preparar para sua consulta, e
para saber o que esperar do seu médico.
- Anote quaisquer sintomas que você está enfrentando, inclusive os que podem parecer sem relação com o motivo pelo qual você agendou a consulta
- Anote informações pessoais importantes, incluindo quaisquer mudanças de vida recentes
- Faça uma lista de todos os medicamentos, vitaminas ou suplementos que você está tomando
- Leve um membro da família ou amigo junto, se possível. Às vezes pode ser difícil absorver toda a informação que você recebe durante uma consulta.
O médico provavelmente irá fazer uma série de perguntas, tais como:
- Quando você começou a sentir os sintomas?
- Esses sintomas são contínuos ou ocasionais?
- Quão grave são os seus sintomas?
- O que parece melhorar os seus sintomas?
- O que parece piorar os seus sintomas?
- Alguém na sua família tem esclerose múltipla?
Você também pode querer fazer perguntas ao médico.
Faça uma lista começando pela mais importante. Assim você garante que
terá as informações mais relevantes, caso a consulta acabe antes. Para
esclerose múltipla, as principais questões são:
- Qual é a causa mais provável dos meus sintomas?
- Existem outras causas possíveis para os meus sintomas?
- Que tipos de testes que eu preciso? Será que estes testes requerem qualquer preparação especial?
- Minha condição provavelmente é temporária ou crônica?
- Quais são os tratamentos disponíveis?
- Quais são os efeitos colaterais de cada tratamento?
- Qual o tratamento você acha que seria melhor para mim?
- Quais são as alternativas para a abordagem primária que você está sugerindo?
- Tenho outras condições de saúde. Como posso gerenciar?
- Existem restrições que eu preciso seguir?
- Há algum material impresso que eu posso levar para casa comigo? Quais sites você recomenda visitar?
Diagnóstico de Esclerose múltipla
O diagnóstico de esclerose múltipla pode ser
difícil, uma vez que é grande a variedade e remissão dos sintomas. Em
geral, os primeiros médicos a serem procurados variam de acordo com o
sintoma apresentado. Por isso que apenas após diferentes sintomas o
paciente é encaminhado ao neurologista, que com a ajuda de exames
complementares consegue chegar ao diagnóstico. Os critérios para
diagnosticar esclerose múltipla são:
- Sintomas e sinais indicando doença cerebral ou da medula espinal
- Evidência de duas ou mais lesões - ou áreas anormais no cérebro - a partir de um exame de ressonância magnética
- Evidência objetiva de doença do cérebro ou da medula espinhal em exame médico
- Dois ou mais episódios com sintomas que dura pelo menos 24 horas, e ocorrem em pelo menos um mês de intervalo
- Nenhuma outra explicação para os sintomas.
O diagnóstico é basicamente clínico e deve ser
complementado por ressonância magnética e pelo exame do líquor. Pode
ser, no entanto, que o médico peça vários exames para excluir outras
condições que podem ter sinais e sintomas semelhantes:
Exames de sangue
A análise de sangue pode ajudar a excluir algumas
doenças infecciosas ou inflamatórias que têm sintomas semelhantes aos da
esclerose múltipla.
Punção lombar
Neste procedimento, um médico insere uma agulha na
parte inferior das costas, a fim de remover uma pequena quantidade de
fluido espinhal (líquor) para análise laboratorial. O líquor é testado
para identificar anomalias associadas à esclerose múltipla, tais como
níveis anormais de células brancas do sangue.
Este procedimento também pode ajudar a excluir
infecções virais e outras condições que possam causar sintomas
neurológicos semelhantes aos da esclerose múltipla.
Ressonância magnética (RM)
Uma ressonância magnética produz imagens detalhadas
do cérebro, medula espinhal e outras áreas do seu corpo. Uma
ressonância magnética pode revelar lesões relacionadas à inflamação e à
perda de mielina no cérebro e medula espinhal. No entanto, lesões
semelhantes podem ser encontradas em condições raras, tais como o lúpus,
ou mesmo em condições comuns, como a enxaqueca e o diabetes.
A presença destas lesões não é a prova definitiva de que você tem
esclerose múltipla, sendo portanto fundamental sua interpretação por um
especialista em conjunto com os demais dados clínicos laboratoriais.
Exame de potencial evocado
Esse teste mede os sinais elétricos enviados pelo
cérebro em resposta a estímulos. Um teste de potencial evocado pode usar
estímulos visuais ou estímulos elétricos aplicados em suas pernas ou
braços. Este teste pode ajudar a detectar lesões ou danos aos nervos
ópticos, tronco cerebral ou medula espinhal, mesmo quando você não tem
quaisquer sintomas de danos nos nervos.
Tratamento de Esclerose múltipla
A esclerose múltipla não tem cura, mas pode ser
controlada. O tratamento geralmente se concentra em manejar as crises,
controlar os sintomas e reduzir a progressão da doença. Hoje, no Brasil,
já existem diversas opções de tratamento, através de cápsula oral
diária ou injeções diárias, semanais e mensais. Há 3 tipos de
betainterferonas disponíveis para tratamento da esclerose múltipla.
Interferon
Interferon é um grupo de proteínas - alfa, beta e
gama - produzida pelo corpo e parte do sistema imunológico. Eles atuam
controlando as atividades desse sistema de diversas formas, além de
possuir propriedades antivirais. (Lembre-se das teorias sobre a relação
entre esclerose múltipla e infecções por vírus). Até agora, os
especialistas descobriram que o interferon-beta ou betainterferona é
eficaz no tratamento da esclerose múltipla.
Como ele funciona: retardando o processo da
esclerose múltipla, reduzindo o número de crises e diminuindo suas
complicações. A betainterferona é administrada via subcutânea ou
intramuscular, podendo ser aplicado diariamente, uma vez por semana ou
três vezes por semana, dependendo da betainterferona escolhida.
O interferon pode causar efeitos colaterais, incluindo:
- Sintomas semelhantes à gripe (fadiga, calafrios, febre, dores musculares e sudorese durante as semanas iniciais de tratamento)
- Reações no local da injeção (inchaço, vermelhidão, descoloração e dor). Contacte o seu médico se o local da injeção escurecer e não injete mais nessa área
- Tristeza, ansiedade, irritabilidade e culpa. Pessoas com história de depressão devem ser cuidadosamente monitorizadas
- Dificuldades para dormir ou comer.
Todos os sintomas devem ser relatados a um profissional de saúde assim que ocorrerem.
As mulheres que estejam grávidas, amamentando ou
tentando engravidar não devem usar drogas a base de betainterferonas.
Expresse esse desejo ao médico para que possam ser discutidas outras
formas de tratamento. Para aquelas que utilizam betainterferonas, deve
ser utilizadas medidas para contracepção.
As betainterferonas podem afetar o funcionamento do
fígado, geralmente de forma leve e controlável. O medicamento também
pode afetar as células do sangue e a função da glândula tireoide.
Portanto, você deverá realizar exames de sangue regulares para garantir
que o fígado está funcionando normalmente e acompanhar suas células
sanguíneas e tireoide.
As betainterferonas são distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento da esclerose múltipla desde 2001.
Acetato de glatirâmer
O acetato de glatirâmer é uma proteína que tem o
objetivo de reduzir o número de crises da esclerose múltipla. Não se
sabe exatamente como ela funciona, mas os médicos acreditam que ela seja
capaz do bloquear o ataque de seu sistema imunológico na mielina,
através de um desvio da imunidade, reduzindo o processo auto-imune.
Você irá injetar este medicamento sob a pele (por
via subcutânea) uma vez por dia, todos os dias. Esse tratamento é
aprovados para formas remitentes da esclerose múltipla. Como as
betainterferonas, essa droga é capaz de reduzir a frequência de surtos.
Os efeitos colaterais são raros, mas podem incluir:
- Dor, vermelhidão e inchaço no local da injeção. Os locais de injeção devem ser alternados de acordo com um cronograma fornecido pelo provedor de cuidados de saúde
- Dor ou aperto no peito, palpitações cardíacas, ansiedade, rubor, e dificuldade em respirar.
Não use este medicamento se estiver grávida. Se
você está planejando engravidar, converse com seu médico para buscar
outras formas de tratamento. Caso você esteja amamentando, discuta sobre
a segurança de continuar usando esse medicamento.
O acetato de glatirâmer é distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Fingolimode
O fingolimode é um medicamento oral, tendo sido a
primeira droga oral para esclerose múltipla no mundo. Trata-se do
primeiro princípio ativo de uma nova classe terapêutica, os moduladores
de receptores esfingosina-1-fosfato (S1PR). Esses medicamentos
determinam aprisionamento seletivo dos linfócitos "doentes" nos gânglios
linfáticos, evitando que entrem no sistema nervoso central e destruam a
mielina.
Ele possui uma eficácia superior às
betainterferonas e ao acetato de glatirâmer no controle dos surtos. Por
ser oral, o medicamento facilita também a adesão ao tratamento. Mais de
100 mil pacientes já foram tratados com fingolimode no mundo.
Depois de migrarem da terapia injetável com
interferon para o tratamento oral com fingolimode, cerca de 50% dos
pacientes ficaram livres da atividade da doença, e mesmo aqueles com a
doença ativa tiveram uma diminuição da perda de volume cerebral
sustentada por até 4,5 anos.
O tratamento oral com fingolimode oferece melhoria
nas principais métricas da esclerose múltipla: perda de volume cerebral;
atividade da lesão, medida por ressonância magnética; taxas de recidiva
(surtos); e progressão da incapacidade.
Para tomar este medicamento, o paciente precisa ter
a sua frequência cardíaca monitorada por seis horas após a primeira
dose, porque a primeira dose pode diminuir frequência cardíaca
(bradicardia). O paciente também necessita ser imunizado contra o vírus
da varicela (vírus varicela-zoster), que pode ser reativado no curso
deste tratamento. Outros efeitos colaterais podem incluir diarreia,
tosse e dor de cabeça.
O Ministério da Saúde aprovou a incorporação de
fingolimode no tratamento da esclerose múltipla em julho de 2014 e,
dessa forma, o medicamento será oferecido gratuitamente pelo Sistema
Único de Saúde (SUS). Infelizmente o protocolo atual do Ministério da
Saúde ainda é muito restritivo quanto ao uso desta medicação, restrições
estas que são criticadas pelas sociedades médicas que reúnem os
especialistas nesta doença.
Natalizumabe
O medicamento natalizumabe é ministrado por infusão
intravenosa uma vez a cada 4 semanas. Acredita-se que sua eficácia está
no bloqueio da interação entre as moléculas de adesão expressa pelas
células inflamatórias e as moléculas dos vasos sanguíneos e das células
do parênquima cerebral. No entanto, o mecanismo específico pelo qual o
natalizumabe exerce seus efeitos na esclerose múltipla não foi definido
inteiramente.
Na esclerose múltipla, as lesões ocorrem quando
células chamadas leucócitos cruzam a barreira de proteção do cérebro.
Para que os leucócitos atravessem esta barreira é necessária a interação
entre moléculas especiais, chamadas moléculas de adesão, encontradas na
superfície das células inflamatórias e células que revestem a parede
dos vasos sanguíneos. O natalizumabe é capaz de impedir essa interação.
Dor de cabeça, dor nas articulações, vermelhidão no
local da injeção, inchaço mãos, pés e tornozelos ou alterações no ciclo
menstrual podem ocorrer com o uso do natalizumabe. Se algum destes
efeitos persistir ou piorar, informe o seu médico imediatamente. O
natalizumabe também aumenta o risco de uma infecção rara, mas muito
grave do cérebro. Tal infecção é causada por um vírus chamado vírus JC.
Este risco pode ser maior quanto maior o tempo de uso de natalizumabe ou
se você usou recentemente ou está utilizando medicamentos
imunossupressores. O medicamento natalizumabe é distribuído pelo Sistema
Único de Saúde para o tratamento da esclerose múltipla.
Mitoxantrona
Este medicamento imunossupressor geralmente é
utilizado para tratar a esclerose múltipla muito grave. É ministrado via
intravenosa e pode ser usado uma vez a cada três meses ou quatro vezes
ao ano. Por ser pode ser prejudicial para o coração e está associada ao
desenvolvimento de câncer no sangue, como a leucemia, é prescrito
baseado na avaliação clínica e exames de ressonância magnética. Devido
aos altos riscos de efeitos colaterais a mitoxantrona praticamente não é
mais utilizada.
Tratamentos recém incorporados
Três novos tratamentos foram recentemente
incorporados ao arsenal terapêutico contra a esclerose múltipla.
Infelizmente estes três tratamentos, apesar de aprovados pela ANVISA
para uso no Brasil, ainda não estão disponíveis no SUS. As sociedades de
especialistas vêm lutando para que o SUS passe a fornecer estes
medicamentos. Apesar da demora no fornecimento via SUS, inúmeros
pacientes já vem sendo beneficiados com estas medicações no Brasil e no
mundo. São elas:
a) Teriflunomida: É uma substância
usada por via oral, uma vez ao dia, cujo mecanismo de ação reside em
bloquear a proliferação de alguns glóbulos brancos causadores de
inflamação na esclerose múltipla. Trata-se de uma droga bem tolerada,
com poucos efeitos colaterais, e que não causa imunodeficiência, não
aumentando o risco de infecções.
b) Fumarato de dimetila: Trata-se
de mais uma opção para tratamento oral da esclerose múltipla, sendo
usada em duas tomadas diárias. Seu mecanismo de ação não está ainda
totalmente claro, mas sabe-se de atua em sistemas moleculares de
proliferação de glóbulos brancos, diminuindo a neuroinflamação. Assim
como a teriflunomida não causa imunossupressão e seus efeitos colaterais
são pouco frequentes.
c) Alemtuzumabe: Assim como o
natalizumabe, é um anticorpo monoclonal. Ou seja, é uma molécula
semelhante às nossas moléculas de defesa, só que ataca células
específicas. Em outras palavras, é como se estivéssemos atirando em um
alvo específico para combater células autorreativas (células que atacam o
próprio sistema nervoso central). Trata-se de uma medicação
extremamente eficaz, feita por via venosa, sendo 5 infusões em 5 dias
consecutivos no primeiro ciclo. Um segundo ciclo de 3 doses é feito um
ano após. Após o segundo ciclo a medicação continua fazendo efeito por
pelo menos 5 anos. É uma medicação de maior risco que as anteriores,
pois pode causar imunodepressão e aumentar o risco de infecções
oportunistas.
Tratamentos a serem incorporados
Novos medicamentos em breve deverão chegar, para
melhorar o cenário terapêutico. Dentre estas novas drogas, podemos citar
algumas como o ocreluzumabe, daclizumabe e cladribrina. O
desenvovimento de novas alternativas terapêuticas é fruto de muita
pesquisa básica e clínica, e vem proporcionando uma melhora crescente do
prognóstico desta doença.
Vitamina D
A vitamina D
já está sendo utilizada no tratamento de doenças autoimunes, condição
que ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos
saudáveis do corpo por engano. A vitamina D é um imunorregulador que
inibe seletivamente o tipo de resposta imunológica que provoca a reação
contra o próprio organismo. O tratamento de doenças autoimunes com
vitamina D é algo recente, mas é visto por especialistas como um grande
avanço da medicina.
Uma pesquisa feita em Harvard e publicada em janeiro de 2014 no Jama Neurology
mostrou que a vitamina D contribui para uma progressão mais lenta das
lesões à ressonância magnética na esclerose múltipla. Os autores do
estudo mostram que pacientes em estágio inicial tiveram um risco 57%
menor de sofrer novas lesões cerebrais à ressonância se apresentassem
níveis adequados de vitamina D. Eles também tinham uma 25% menor de
sofrer com a piora das lesões existentes. Outro estudo da Harvard School of Public Health
feito em 2006 sugere a diminuição de 41% do risco de esclerose múltipla
para cada 50 nmol/L aumentando os níveis de vitamina D. Além dessas,
existem quase cinco mil publicações no mundo sobre os benefícios da
vitamina D na esclerose múltipla. No entanto, ainda faltam estudos
conclusivos que comprovem que a Vitamina D possa ser administrada como
tratamento exclusivo para a esclerose múltipla.
A Academia Brasileira de Neurologia (ABN) elaborou
um consenso médico sobre o uso terapêutico da vitamina D em pacientes
com esclerose múltipla. De acordo com a publicação, é recomendado
realizar dosagem de vitamina D nos pacientes com esclerose múltipla,
independentemente da fase da doença, sobretudo em pacientes que fazem
uso frequente de corticosteroides ou anticonvulsivantes.
No entanto, níveis de vitamina D acima de 100 ng/mL
no sangue periférico devem ser evitados até que novas definições sejam
estabelecidas para a recomendações diárias de vitamina D. Por fim, o
consenso da Academia Brasileira de Neurologia afirma que não existem
evidências científicas que justifiquem o uso da vitamina D como
tratamento exclusivo para esclerose múltipla.
Assim, nenhum paciente com esta doença deve
suspender os tratamentos comprovadamente eficazes para usar somente a
vitamina D. A suplementação com vitamina D é um procedimento simples e o
próprio neurologista encarregado do tratamento poderá fazê-lo.
Estratégias para tratar sintomas
- Fisioterapia: um profissional pode lhe ensinar alongamento e fortalecimento muscular, além de mostrar como usar dispositivos que podem tornar a execução de tarefas mais fácil
- Relaxantes musculares: se você tem esclerose múltipla, pode ocorrer rigidez muscular dolorosa ou espasmos incontroláveis, particularmente nas pernas. Relaxantes musculares podem melhorar esses sintomas. Em alguns casos a toxina botulínica pode auxiliar
- Medicamentos para reduzir a fadiga: medicamentos como a amantadina pode ajudar a reduzir a fadiga devido à esclerose múltipla. Muitas vezes estratégias não farmacológicas podem ser bastante úteis para diminuir a fadiga
- Outros medicamentos: podem ser prescritos tratamentos medicamentosos para depressão, dor e controle da bexiga ou intestino que podem estar associados com a esclerose múltipla.
Medicamentos para Esclerose múltipla
Somente um neurologista pode dizer qual o
medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a
duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico
e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem
consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em
quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na
bula.
Convivendo/ Prognóstico
Descanse
A fadiga é um sintoma comum de esclerose múltipla.
Embora ela geralmente não esteja relacionada com o seu nível de
atividade, o descanso pode fazer você se sentir mais disposto.
Pratique exercícios
O exercício físico regular, como caminhadas,
natação, musculação e outras atividades físicas, podem oferecer alguns
benefícios se você tiver esclerose múltipla leve à moderada. Benefícios
da atividade física incluem melhora da força, tônus muscular, equilíbrio
e coordenação, controle da bexiga e do intestino, e menos fadiga e
depressão.
Manter uma dieta equilibrada
Comer uma dieta saudável e equilibrada pode ajudar
você a manter um peso saudável, fortalecer o sistema imunológico e
manter a saúde dos ossos.
Alivie o estresse
O estresse pode desencadear ou piorar os sintomas da esclerose, por isso tente encontrar maneiras de relaxar. Atividades como yoga, tai chi, massagem, meditação, respiração profunda ou apenas ouvir uma boa música podem ajudar.
Adapte-se no ambiente de trabalho
Por conta da fadiga e dificuldades motoras, pode
ser mais complicado para uma pessoa com esclerose múltipla exercer suas
atividades no trabalho da mesma forma que pessoas saudáveis. Entre as
adaptações que podem ser propostas estão:
- Maior flexibilidade de horário
- Possibilidade de pausas regulares
- Tarefas variadas
- Adequação entre habilidades, limitações e a função desempenhada
- Garantia de confidencialidade de informações sensíveis e particulares.
Evite o calor
Pacientes com esclerose múltipla são muito
sensíveis ao calor. Por isso, é importante evitar banhos quentes e
exposição excessiva ao sol quando possível. Usar roupas leves e manter o
corpo refrescado também pode ajudar.
Busque apoio
Existem diversos grupos de apoio, tanto presenciais
quanto online, de pacientes com esclerose múltipla. Caso seja de
interesse, procure essas comunidades para trocar experiências e entender
melhor a doença.
Complicações possíveis
Em alguns casos, pessoas com esclerose múltipla também podem desenvolver:
- Espasmos musculares e fraqueza crônica
- Paralisia, geralmente nas pernas
- Problemas na bexiga permanentes
- Dificuldades sexuais permanentes
- Esquecimento e dificuldade de concentração permanente
- Depressão
- Epilepsia.
Prevenção
Não é possível prevenir a esclerose múltipla. No
entanto, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, o paciente
consegue viver sem grandes complicações decorrentes da doença.
Referencia
Revisado por: Neurologista Renan Barros Domingues,
doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo e University of
Alabama at Birmingham (EUA), pós- Doutorado em Neurologia pela
Université Lille 2, França e membro titular da Academia Brasileira de
Neurologia
André Matta, neurologista responsável pelo Setor de Neurologia e Imunologia da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Cícero Galli Coimbra, neurologista e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Fonte:
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