Pasta chama a atenção para perigo de reintrodução de doenças já consideradas eliminadas, como sarampo e poliomielite
O alerta feito pelo Ministério da Saúde nesta semana sobre a baixa cobertura vacinal no País em crianças chama atenção para o perigo de reintrodução de algumas doenças que já eram consideradas eliminadas, como o sarampo e a poliomielite. O governo federal divulgou uma lista com os 312 municípios onde o índice de imunização contra a pólio está abaixo de 50% para crianças com menos de um ano de idade e a lista revela uma situação preocupante no Paraná, na região dos Campos Gerais. Dos oito municípios do Estado incluídos na lista, sete estão na área de abrangência da 3ª Regional de Saúde. Em pior situação está Carambeí, cidade com uma população de pouco mais de 22 mil habitantes e que ocupa a 17ª posição na lista, com um índice de cobertura de 5,43%, segundo o Ministério da Saúde. Na sequência estão Castro (6,88%); Piraí do Sul (9,25%); Ivaí (25,79%); Sengés (28,47%); Porto Amazonas (39,22%) e Ipiranga (40,70%). O único município paranaense fora da área da 3ª Regional de Saúde é Campo do Tenente, na Região Metropolitana de Curitiba, que aparece na lista com uma cobertura vacinal de 44,53%.
Diretor do Centro de Epidemiologia do Paraná, João Luís Crivellaro afirma que houve erro no registro da cobertura vacinal nos oito municípios. Dados ainda preliminares da Sesa (Secretaria Estadual da Saúde) apontam que o Paraná fechou 2017 com uma cobertura vacinal contra a poliomielite acima de 76% e o diretor garante que o índice de imunização em cada uma das cidades paranaenses incluídas na lista do Ministério da Saúde acompanha a cobertura no Estado. "O arquivo foi corrompido e acabou dando distorção nos dados. Houve falha de registro no Programa Nacional de Imunizações, mas já comunicamos o Ministério da Saúde, que irá corrigir as informações. Essa correção é um processo demorado", justifica. "Quando for feita a correção os municípios que estão na lista vão chegar ao patamar de 75% a 80%. A 3ª Regional de Saúde tem uma boa cobertura vacinal."
Segundo ele, em 2015 a vacinação contra a poliomielite no Paraná atingiu 4% a mais das crianças menores de um ano de idade que eram previstas para serem imunizadas, o que explica o índice registrado de 104%. Em 2016, a taxa de imunização caiu um pouco, encerrando o ano em 81,2% e, em 2017, o balanço parcial aponta uma nova queda, de 76,07%. "A gente quer altas coberturas vacinais para todas as doenças, acima de 85%", diz Crivellaro.
A poliomielite está erradicada do Paraná desde 1989 e no Brasil, desde 1990. Em 1994, o País recebeu da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), a Certificação de Área Livre de Circulação do Poliovírus Selvagem. Por essa razão, destaca o Ministério da Saúde, é fundamental a manutenção das elevadas coberturas vacinais, acima de 95%, para evitar a reintrodução do vírus da poliomielite no País. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), três países ainda são considerados endêmicos: Afeganistão, Paquistão e Nigéria.
O perigo da reintrodução da poliomielite no Brasil foi discutido no último dia 28 de junho, durante a reunião da CIT (Comissão Intergestores Tripartite), que reúne representantes do Ministério da Saúde, de Estados e municípios. "O risco existe para todos os municípios que estão com coberturas abaixo de 95%. Temos que ter em mente que a vacinação é a única forma de prevenção da poliomielite e de outras doenças que não circulam mais no País. Todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas, conforme esquema de vacinação de rotina e na campanha nacional anual. É uma questão de responsabilidade social", conclui a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Carla Domingues, em nota encaminhada à imprensa pelo Ministério da Saúde.
O esquema de vacinação contra a poliomielite inclui cinco doses da vacina. As três primeiras - aos dois, quatro e seis meses de vida - são injetáveis. As duas últimas, de reforço, são ministradas aos 15 meses e aos quatro anos, em gotas. Entre os dias 6 e 31 de agosto, acontece em todo o País a Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite. No Paraná, a campanha deverá atingir 581 mil crianças.
Poliomielite: sintomas, transmissão e prevenção
A poliomielite é uma doença infecto-contagiosa aguda, causada por um vírus que vive no intestino, denominado Poliovírus.
Embora ocorra com maior frequência em crianças menores de quatro anos,
também pode ocorrer em adultos. O período de incubação da doença varia
de dois a trinta dias sendo, em geral, de sete a doze dias. A maior
parte das infecções apresenta poucos sintomas (forma subclínica) ou
nenhum e estes são parecidos com os de outras doenças virais ou
semelhantes às infecções respiratórias como gripe - febre e dor de
garganta - ou infecções gastrintestinais como náusea, vômito,
constipação (prisão de ventre), dor abdominal e, raramente, diarréia.
Cerca de 1% dos infectados pelo vírus pode desenvolver a forma
paralítica da doença, que pode causar sequelas permanentes,
insuficiência respiratória e, em alguns casos, levar à morte. Em geral, a
paralisia se manifesta nos membros inferiores de forma assimétrica, ou
seja, ocorre apenas em um dos membros. As principais características são
a perda da força muscular e dos reflexos, com manutenção da
sensibilidade no membro atingido.
Transmissão
Uma pessoa pode transmitir diretamente para a outra. A transmissão do vírus da poliomielite
se dá através da boca, com material contaminado com fezes (contato
fecal-oral), o que é crítico quando as condições sanitárias e de higiene
são inadequadas. Crianças mais novas, que ainda não adquiriram
completamente hábitos de higiene, correm maior risco de contrair a
doença. O Poliovírus também pode ser disseminado por
contaminação da água e de alimentos por fezes. A doença também pode ser
transmitida pela forma oral-oral, através de gotículas expelidas ao
falar, tossir ou espirrar. O vírus se multiplica, inicialmente, nos
locais por onde ele entra no organismo (boca, garganta e intestinos). Em
seguida, vai para a corrente sanguínea e pode chegar até o sistema
nervoso, dependendo da pessoa infectada. Desenvolvendo ou não sintomas, o
indivíduo infectado elimina o vírus nas fezes, que pode ser adquirido
por outras pessoas por via oral. A transmissão ocorre com mais
frequência a partir de indivíduos sem sintomas.
Prevenção
A poliomielite não tem tratamento específico. A doença deve ser evitada tanto através da vacinação contra poliomielite
como de medidas preventivas contra doenças transmitidas por
contaminação fecal de água e alimentos. As más condições habitacionais, a
higiene pessoal precária e o elevado número de crianças numa mesma
habitação também são fatores que favorecem a transmissão da
poliomielite. Logo, programas de saneamento básico são essenciais para a
prevenção da doença. No Brasil, a vacina é dada rotineiramente nos postos da rede municipal de saúde e durante as campanhas nacionais de vacinação. A vacina contra a poliomielite oral trivalente
deve ser administrada aos dois, quatro e seis meses de vida. O primeiro
reforço é feito aos 15 meses e o outro entre quatro e seis anos de
idade. Também é necessário vacinar-se em todas as campanhas.
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